Lenda recontada por Isabel Ramalhete
Encerrado no seu gabinete, o fidalgo afogava as mágoas desenhando e projetando objetos que, segundo ele, haviam de revolucionar e facilitar muito as vidas das pessoas: telhados de vidro, máquinas voadoras, carros sem cavalos e outras maravilhas que tais.
Convencido da importância dos seus inventos, gastava com eles muito dinheiro. Um dia, dizia ele, as pessoas haviam de os apreciar devidamente e pagar bem por eles.
A verdade é que, aos poucos, o fidalgo gastou tudo o que tinha e a família não teve outro remédio senão mudar-se para uma modesta casinha no campo, onde a vida era mais barata. As três filhas passaram a encarregar-se de todas as tarefas quotidianas. Limpavam, lavavam, cosiam, passajavam e cozinhavam.
Os anos foram correndo e chegou a altura de casar as filhas. O fidalgo andava triste e deprimido, porque não tinha o suficiente para lhes dar um dote e, sem ele, jamais elas encontrariam um marido.
Uma noite, depois de terem lavado toda a sua roupa, as raparigas penduraram as meias na lareira para secarem. Nessa noite, o Pai Natal, sabendo do desespero do velho fidalgo, parou diante da casa. Olhou pela janela e viu que a família já se recolhera. Também reparou que as meias das meninas estavam penduradas na lareira. Então, decidido a ajudar, agarrou em três bolsinhas de ouro e, com pontaria certeira, atirou-as pela chaminé, fazendo com que aterrassem dentro de cada uma das meias.
Na manhã seguinte, quando acordaram, as meninas descobriram, com alegria, que tinham o dinheiro suficiente para os dotes. E foi assim que o fidalgo pôde casar as três filhas e viver feliz para sempre.
Ainda hoje, crianças de muitas partes do mundo penduram as meias na lareira na véspera de Natal.
Fidalgo – alguém importante, pertencente à classe da nobreza, em tempos antigos.
Revolucionar – provocar uma mudança profunda.
In “Era uma vez outra vez” coordenação José António Gomes, Porto Editora
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