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ter, 24 de Novembro

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

RECORDAR SEBASTIÃO DA GAMA...


O MENINO GRANDE

Também eu, também eu,

joguei às escondidas, fiz baloiços,

tive bolas, berlindes, papagaios,

automóveis de corda, cavalinhos...

Depois cresci,

tornei-me do tamanho que hoje tenho.

Os brinquedos perdi-os, os meus bibes

deixaram de servir-me.

Mas nem tudo se foi:

ficou-me,

dos tempos de menino,

esta alegria ingénua

perante as coisas novas

e esta vontade de brincar.

Vida!

não me venhas roubar o meu tesoiro:

não te importes que eu ria,

que eu salte como dantes.

E se riscar os muros

ou quebrar algum vidro

ralha, ralha comigo, mas de manso...

(Eu tinha um bibe azul...

Tinha berlindes,

tinha bolas, cavalos, papagaios...

A minha Mãe ralhava assim como quem beija...

E quantas vezes eu, só pra ouvi-la

ralhar, parti os vidros da janela

e desenhei bonecos na parede...)

Vida!, ralha também,

ralha, se eu te fizer maldades, mas de manso,

como se fosse ainda a minha Mãe...

Sebastião da Gama (1924-1952)

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