Um pobre negociante, partindo em viagem, guardou todo o seu ferro em casa de um rico negociante.
Quando voltou, apresentou-se em casa do seu depositário, para levantar a sua mercadoria. Mas o negociante rico tinha vendido tudo e para se livrar de trabalhos, disse:
- Aconteceu uma desgraça à tua mercadoria.
- O que aconteceu?
- Guardei-a no celeiro onde há muitos ratos e estes roeram todo o ferro; eu próprio os vi; se não me acreditas, vem vê-los tu mesmo!
O próprio negociante não queria discutir e disse simplesmente:
- É inútil ir ver, eu acredito; sei que os ratos comem ferro… Adeus!
E o pobre negociante foi-se embora. Na rua viu um rapazinho que jogava. Era o filho do rico negociante. Acariciou-o, pegou-lhe ao colo e levou-o para a sua casa.
Na manhã seguinte, o rico negociante encontrou o pobre e contou-lhe a sua desgraça. Contou-lhe que lhe tinham roubado o filho e perguntou-lhe se não tinha visto nem ouvido nada a esse respeito.
O pobre respondeu:
- Com efeito, quando eu saia de tua casa, ontem, vi um abutre que desceu sobre o teu filho. Agarrou-o e levou-o.
O negociante rico zangou-se e disse:
- Não tens vergonha de troçares de mim? Já alguma vez viste um abutre roubar uma criança?
- Não, não rio. Que admiração que um abutre leve uma criança, quando os ratos podem comer cem quilogramas de ferro… Tudo é possível!
Então o negociante rico compreendeu e disse:
- Não, os ratos não comeram o teu ferro, vendi-o e pago-te o dobro do seu valor.
- Se isso é assim, o abutre não levou o teu filho e eu vou dar-to.
In “Contos, narração, fábulas e poesias”, Acabado, Janeiro M. António, Porto Liv. Avis.
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