PROJETO - "LER + PARA SER+"
A raposa Rute
Super interessante - Abril.com
A Rita era uma menina de dez anos muito amiga de animais.
A sua casa estava situada num vale perto de uma montanha, onde havia animais de toda a espécie: coelhos, perdizes, aves coloridas, lobos e raposas.
Muitas vezes, os animais desciam do monte até ao vale.
Um dia, a menina estava a brincar um pouco mais afastada da sua casa, quando viu uma raposa sem se poder mexer, escondida junto a uns arbustos bastante altos. Pensou logo em ir falar com ela. A raposa, quando viu a menina dirigir-se para ela, quis fugir, mas, mal tentou levantar-se, caiu e começou a chorar com medo.
A menina tentou acalmá-la e perceber o que se passava.
— Eu não te faço mal. Quero ajudar-te. O que tens? Como te chamas?
Com muito medo a raposinha foi falando:
— Acho que o meu nome é Rute, mas só me chamavam deficiente. Sabes, eu não nasci igual aos meus três irmãos raposos. Tenho muita dificuldade em mexer as patas e estou sempre a cair e a ficar para trás nas caminhadas. Desta vez, eles aborreceram-se e abandonaram-me. Disseram-me coisas horríveis, que não era como eles, que não servia para nada, que era deficiente! Um autêntico embaraço! O que vou fazer agora?
A Rita começou a pensar e perguntou à raposa:
— Não podes andar bem, mas podes fazer outras coisas, não podes?
A raposa Rute gostou da Rita e, mais calma, respondeu:
— Gostava muito de aprender a ler e a escrever, para poder criar histórias que distraíssem os meus conhecidos e amigos. Assim, não precisava de me mover muito. Eles traziam-me comida e eu contava-lhes uma história.
A menina, contente por a raposinha não ter medo dela, disse:
— Boa! Ótima ideia! Vou ajudar-te. Vou ensinar-te a ler e a escrever. Enquanto aprendes, podes memorizar histórias e contá-las. Eu escrevo-te algumas. Começa já a pensar na primeira. Vou procurar uma tábua onde anunciar as tuas histórias e convidar os animais a virem ouvi-las.
E continuou:
— Que nome queres pôr ao espaço onde vais contar as histórias?
— Cantinho da Fantasia. Parece-te bem? – perguntou a raposa Rute.
— Muito fixe. Vais levá-los para um mundo de fantasia! — exclamou a menina.
— Não é para isso, também, que servem as histórias? — perguntou a raposa.
— Muito bem! És uma raposa esperta. Mãos à obra! — tornou a Rita a dizer entusiasmada.
A tábua ficou feita em pouco tempo e pendurada numa árvore que podia ser vista por muitos animais. No dia seguinte apareceram, muito a medo, os primeiros ouvintes.
A Rute contou a primeira história.
Todos ficaram encantados e o Cantinho da Fantasia depressa se tornou conhecido.
Os irmãos da raposa, quando ouviram falar num animal que contava lindas histórias, também foram ao Cantinho da Fantasia e não queriam acreditar que a irmã que tinham abandonado era a autora de tanto sucesso.
Quando viu os irmãos no meio de tantos animais, a raposa começou:
— Era uma vez uma raposa diferente dos seus irmãos, porque não conseguia mexer-se como eles e acompanhá-los nas suas caminhadas. Em vez de a apoiar, eles deixaram-na sozinha no bosque…
A raposinha não teve tempo de prosseguir.
Ao perceberem o que ela estava a contar, os irmãos correram a abraçá-la e a pedir-lhe perdão. E passaram a ser os ouvintes mais assíduos das histórias que a irmã não se cansava de inventar.
Teresa Cavaco, Associação “NÓS COM A DEFICIÊNCIA RUMO À CIDADANIA” Porto, 2011 (adaptação)
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