SOPA DE LETRAS
- Gosto muito de te ver contente!
Mas o A torceu o nariz e disse:
- Não estou contente, pai: estou alegre e animado. Quem hoje acordou contente. Quem hoje acordou contente foi o meu irmão C.
O pai sorriu e disse:
_ Ainda bem, porque nestes últimos tempos o C tem acordado sempre com cara de caso...
- Então e o D? Esse, desde que tropeçou nos degraus, passa os dias deitado!
- Logo ele, que parecia tão delicado ao desporto! - disse o pai, que logo acrescentou:
- Nisso está melhor o E: tem feito uma época espantosa em equitação!
E o F em futebol!
-Já o G... - lastimou-se o pai - gaba-se. gaba-se, mas... é só garganta!
É ainda um garoto, pai... - desculpou-o o irmão mais velho.
- Ora essa! Mais novo é o H e trabalha que nem um homenzinho na herdade!Ñesse momento a mãe, que se chamava Palavra e tinha de acudir a todos, gritou:
- Vocês vão ficar aí na conversa o dia inteiro? Tenho o jantar pronto, e sabem bem como é difícil conseguir os 26 à mesa...
- A culpa é sempre do I, que é indolente...
- E do J, que passa o tempo todo à janela...
- E do...
- Calem-se! - gritou a mãe. - Calem-se com isso se não...
- Se não? - perguntaram pai e filhos em coro.
- Se não faço sopa de letras e meto-os a todos na panela!
Alice Vieira, Livro com cheiro a Baunilha, Lisboa, Texto Editores, 2007
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