CONTO DO BRASIL
Era madrugada. O céu estava avermelhado, O sol surgiria em breve. A gralha estava bem acomodada num dos raminhos do pinheiro onde passara a noite. Gostava muito daquele momento. A noite já tinha acabado, mas o dia ainda não tinha começado. A paz ainda era grande na floresta.
De repente, este seu sossego foi interrompido por um som seco e profundo.
- O que é isto? – Perguntou a gralha.
Mais uma vez o tal som seco. Mas desta vez, todo o pinheiro estremeceu. A gralha assustou-se. E percebeu que era o lenhador que estava a cortar o pinheiro.
Num momento de desespero, bateu asas e voou muito para além das nuvens. Aí não iria ouvir os estertores do pinheiro seu amigo. Mas, de repente, ouviu uma voz que lhe dizia:
- Ainda bem que as aves se revoltam com as dores alheias.
Mais assustada ainda ficou a gralha. Bateu as asas com mais força e continuou a voar. Mas mesmo aí, no meio do céu, ouviu de novo a voz que lhe dizia:
- Volta avezinha bondosa. Vai de novo para a floresta. Vou vestir-te de azul, da cor do céu. De hoje em diante, irás ajudar a floresta.
- Como? – Perguntou a gralha.
- Como comeres os pinhões de que tanto gostas, deixa cair alguns na terra. Aí onde eles caírem, nascerão novos pinheiros. E assim haverá sempre pinheiros.
A gralha ficou tão contente que começou a cantar, um canto tão alegre que mais parece um bando de crianças a rir e a brincar.
In, PEREIRA-MÜLLER, M. Margarida, “Contos e Lendas da Lusofonia”, Sintra, Colares Editora, 2010
Estertor: respiração dos agonizantes
Sem comentários:
Enviar um comentário