Era uma vez um crocodilo que vivia em Timor. Um dia, começou a fazer muito calor e o crocodilo pensou que iria morrer, pois não encontrava o caminho para o rio.
Um rapazito que tomava banho num rio ali próximo, ouviu uns gemidos e resolveu ir ver quem estava a sofrer tanto assim. Pegou nele e levou-o para o rio.
-Mais uns minutinhos e eu teria morrido – disse-lhe o crocodilo.
- Fico-te eternamente grato. Para te provar a minha gratidão, quero fazer contigo um pacto de amizade. Seremos amigos para sempre. Sempre que te apetecer ir passear até ao mar alto, basta chamares-me e eu levar-te-ei ate lá.
A partir desse dia, o rapazito ia brincar muitas vezes com o crocodilo para o rio, que o levava a descobrir novos recantos do mar.
Um dia, porém, durante um dos passeios, o crocodilo teve uma enorme vontade de comer o rapazito. Reprimiu esse desejo, mas após ter deixado o rapazito em terra, voltou para o mar e perguntou aos peixinhos:
- Um rapazito salvou-me a vida. Poderei comê-lo ou não?
Os peixes quase que saltavam para cima do crocodilo:
- De modo algum! Nunca devemos fazer mal a quem nos faz bem!
O crocodilo não ficou satisfeito com a resposta e perguntou a uma baleia:
- Um rapazito salvou-me a vida. Poderei comê-lo ou não?
A baleia respondeu de imediato:
- De modo algum! Nunca devemos fazer mal a quem nos faz bem!
- Os peixes sabem lá o que se deve de fazer ou não! Vou mas é aconselhar-me com os animais da floresta! – Pensou o crocodilo.
Naquele instante, passou por ali um macaco e o crocodilo perguntou-lhe:
- Um rapazito salvou-me a vida. Poderei comê-lo ou não?
- O quê? Queres comer quem te salvou a vida? Não tens vergonha?!
Nunca, mas mesmo nunca devemos fazer mal a quem nos faz bem!
O crocodilo lá se deixou finalmente convencer. Nunca mais pensou em comer o rapazito e continuou a levá-lo a passear no alto mar.
Um dia, o crocodilo levou o rapazito para o Oriente. No caminho, sentiu que iria morrer em breve e disse ao rapazito:
- Sabes, já estou velho e não tarda que vou morrer. Vou-te levar para terra. Todos os crocodilos estão submissos. Palavras não eram ditas e o crocodilo morreu.
Naquele lugar, surgiu uma ilha com o feitio dum crocodilo. E é por isso que os habitantes dessa ilha ainda hoje lhe chamam “avô” ao crocodilo.
In, PEREIRA-MÜLLER, M. Margarida, “Contos e Lendas da Lusofonia”, Sintra, Colares Editora, 2010
Sem comentários:
Enviar um comentário