CONTO
A menina sentou-se no sofá com o seu caderno de trabalhos de casa em cima dos joelhos. “O Poema da Borboleta” escreveu no topo da página, mordiscando a caneta, pensativa. Podia ouvir as batidas da música pop no apartamento de cima, os rapazes a jogarem à bola na rua , o telefone a tocar…
Como era difícil concentrar-se! O tempo ia passando, e a menina aos poucos, começava a ver umas belas palavras coloridas a flutuar ao seu redor. Ergueu a mão, ainda com a caneta e apanhou algumas palavras, colocando-as na sua página branca. E depois mais algumas. Quanto mais palavras apanhava, mais fácil se tornava alcançá – las; eram as melhores palavras do mundo, belas na sua simplicidade, como o são as palavras poéticas.
Na manhã seguinte, a menina preparou-se para ir para a escola. Abriu o seu caderno de trabalhos de casa e folheou-o até à página intitulada “O poema da Borboleta”.
Mas onde estavam as palavras? Tinham todas desaparecido! A menina olhou estupefacta para o seu caderno, virou-o ao contrário, verificando se a página não tinha sido arrancada, e folheou-o outra vez, no caso das palavras terem fugido para outra página…
A menina esfregou os olhos, apertou-os com força e voltou a abri-los. À sua volta, estavam pequenos fragmentos de laranja, turquesa, cor de jasmim e violeta: a rua cinzenta onde vivia tinha sido rapidamente colorida de cores brilhantes com centenas e milhares de borboletas.
In Antologia de “Contos Arrepiantes”, Crossley-Holland, Kevin
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