BLOGUE DAS BIBLIOTECAS ESCOLARES DO AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE PEDROUÇOS - AEP - MAIA
quinta-feira, 28 de maio de 2020
QUIZIZZI : QUIZ GAMES FOR LEARNING
DEPOIS DE UMA SEMANA DE AULAS CHEGOU O FIM DE SEMANA... VAMOS RELAXAR...
O QUE ACONTECEU A 28 DE MAIO DE 1926?
28 de Maio de 1926 foi o golpe militar comandado pelo general de Gomes da Costa.
A 1.ª República é derrubada. Instaurou-se a Ditadura Militar.
A 1.ª República é derrubada. Instaurou-se a Ditadura Militar.
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quarta-feira, 27 de maio de 2020
TRABALHOS PRODUZIDOS PELOS ALUNOS
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DE PORTUGAL - 5.º ANO
Rei – Filho, que bom encontrar-te aqui. Tenho em ti grandes esperanças. Que possas descobrir novas terras, dar-nos novos mundos.
Henrique – Meu rei, pai, creio estar pronto e esperança também não me falta.
Rei – Acho que está na hora de avançares pelo mar fora e ir em busca do desconhecido. Portugal precisa de ti.
Henrique – Oh pai... Desde miúdo que gosto muito de descobrir. O que vai começar por ser uma aventura para mim, com o que sei, estudei e sonhei serão estas viagens um grande avanço para o nosso Portugal do futuro.
Rei – É verdade, meu destemido filho. Se os descobrimentos tiverem sucesso Portugal estará a salvo desses anos de fomes, guerras e pestes. Precisamos de novas terras, novos mercados e produtos, metais, cereais, matérias-primas, mão de obra, de melhorar as condições de vida.
Henrique – Estou muito feliz por confiares em mim e em meus irmãos para vos poder ajudar a tornar Portugal maior. Aos nossos navegadores, aos nossos marinheiros não lhes faltará coragem porque com Deus e em nome d’El Rei D. João I se lançarão ao mar.
Rei – Que nenhum monstro, que nenhuma tempestade, que nenhum mar te consiga parar. Vai e salva este país!
Henrique – Meu rei, temos tudo para ultrapassar todos os obstáculos que existam. Temos a força dos heróis portugueses!
Diálogo imaginado e criado por David Vidal e Sara Figueiredo 5.º G
(Professora Suzana Rabumba)
ADIVINHAS
Veja lá se sabe...
1. ª
Estou no meio do Inferno
E estou no meio do céu
Digam lá os entendidos
Quem é que posso ser eu.
2.ª
Não tem asas, não tem pés,
E no entanto voa e corre;
Quando mais depressa o faz
Mais depressa a gente morre.
Tanto subo como desço
É a minha tradição;
No Inverno desço mais
E subo mais no Verão.
terça-feira, 26 de maio de 2020
MITOS E LENDAS DO SÉCULO XV E XVI: UM MUNDO POR DESCOBRIR
Recurso integrante da disciplina de História e Geografia de 5.º ano da ESCOLA VIRTUAL.
Clica aqui:
segunda-feira, 25 de maio de 2020
BIBLIOTECA DE RECURSOS DIGITAIS DA RBE
BE.... do analógico ao Digital
Já se encontra nos " Sites Úteis" deste Blogue- Biblioteca de Recursos Digitais da Rede de Bibliotecas Escolares
Clica aqui:
https://blogue.rbe.mec.pt/biblioteca-de-recursos-digitais-2337103?fbclid=IwAR3ZSAPC8JVRh8X0cIQpzoFj63iMl6gVh9cNsGwCCyHL4UjvLx6jGOq7b68
Um excelente recurso para explorar.
MIÚDOS A VOTOS - "QUAIS OS LIVROS MAIS FIXES? - FESTA FINAL
Este ano, votaram 16 819 alunos!
Os resultados serão revelados no...
Mais informações:
sexta-feira, 22 de maio de 2020
DIA DO AUTOR PORTUGUÊS - 22 DE MAIO
Evento realizado sem público, mas com lançamento de livros.
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imagem partilhada da Sociedade Portuguesa de Autores |
https://www.spautores.pt/destaques/dia-do-autor-portugues-sem-publico-a-22-de-maio-mas-com-lancamento-de-livros
e aqui:
RESULTADOS DO CONCURSO “UMA AVENTURA LITERÁRIA 2020” (EDITORIAL CAMINHO)
Biblioteca Papiniano Carlos - Escola Básica da Giesta
CONCURSO “UMA AVENTURA LITERÁRIA 2020”
MODALIDADE TEXTO ORIGINAL
Parabéns aos alunos do 1.º ano, turma D, da professora Carla Teles que obtiveram o 1.º Prémio ex-aequo de Texto original.
A VERDADEIRA E MARAVILHOSA HISTÓRIA DO DRAGÃO SAMUEL DE JOSÉ FANHA
LER+PARA SER+
Para lá das montanhas onde o dia acaba, por trás da noite e do escuro, num sítio escuro e muito perigoso, fica o terrível país dos dragões. Foi aí que nasceu o pequeno Samuel, que logo revelou ser um dragão muito especial, embora quem o visse pela primeira vez o achasse igualzinho a todos os outros dragões.
Na aparência geral, Samuel era um bebé lindo e sem nenhum defeito. Muito verde, tinha umas lindas escamas a cobrirem-lhe o corpo, uns olhos enormes, vermelhos e flamejantes, como é normal entre os dragões. Quando começou a crescer é que as coisas se tornaram muito complicadas para o nosso pobre Samuel.
Como nós sabemos, desde pequeninos que os dragões aprendem a meter medo às pessoas e aos outros animais. E para isso não lhes basta ser verdes e horrendos. Todos os dias têm de comer enormes quantidades de carvão para, depois, deitarem pela boca grandes labaredas que queimam tudo em redor e mantêm à distância os homens e todos os outros animais.
Todos os dragões eram assim. Todos menos o Samuel. O nosso pequeno dragãozinho era igual aos outros dragões em tudo menos numa coisa. Não era capaz de comer carvão. Nem de o cheirar. Mal lhe chegava à boca tinha vómitos e tonturas. Samuel, o pequeno dragãozinho só gostava de comer nuvens. A princípio ninguém deu grande importância ao assunto. Mas, quando chegou à idade de aprender a deitar labaredas pela boca, foi com grande espanto que os pais e todos os outros dragões se aperceberam de que o Samuel, em vez de fogo, deitava rios e rios de água pela boca.
O pobre do Samuel tornou-se alvo da risota de todos os outros dragõezinhos da sua idade. Todos se riam dele e o empurravam e diziam que ele nunca havia de ser um dragão como deve ser. Samuel, o pequeno dragãozinho, vivia muito infeliz. Queria ser igual aos outros e deitar fogo e queimar tudo em redor como faziam os seus camaradas de escola. Mas não era capaz. Só sabia deitar água pela boca. Um fiozinho fino e delicado de água que em vez de assustar as árvores e os arbustos só lhes dava alegria e felicidade.
Definitivamente, Samuel não era um dragão como todos os outros.
Um dia, o Conselho dos Velhos Dragões resolveu mandar chamá-lo. Samuel apresentou-se cheio de medo perante aquele friso solene de velhos dragões onde pontuavam os mais sábios, os mais valentes e os mais fortes de todos os dragões. O mais velho olhou para ele e com a sua voz de trovão ribombante perguntou-lhe severamente:
— É verdade que tu, em vez de fogo, deitas água pela boca?
— É sim… — respondeu Samuel, que não era capaz de mentir mas sentia as pernas a tremer e o chão a tremer e o céu parecia mesmo que ia cair-lhe em cima da cabeça.
Os velhos dragões olharam uns para os outros, desataram a falar baixinho e depressa, e tomaram uma terrível decisão: resolveram expulsá-lo para sempre do país dos dragões. Triste e muito solitário, o pobre dragãozinho Samuel teve de abandonar a sua terra e foi pelo mundo fora sem ter casa para onde voltar, nem cama onde dormir nem sopa quente que o esperasse à noite.
Correndo mundo, passaram-se muitos anos. Samuel vagueava por montes e florestas sem meter medo a ninguém, comendo uma nuvem aqui, outra acolá, deitando água pela boca e tornando-se no amigo preferido das gazelas, dos patos, dos peixes e de todos os animais que vivem ao pé da água.
Entretanto, na terra de onde tinha vindo Samuel, os dragões continuavam a comer carvão e a deitar labaredas pela boca. E tanto carvão comeram, e tanto fogo espalharam à sua volta que, a pouco e pouco, acabaram por queimar tudo em seu redor. As flores murcharam, árvores morreram, os rios secaram e o país dos dragões tornou-se num deserto.
Sem flores, nem árvores, nem rios, os dragões perceberam que iam acabar por morrer.
O seu fim aproximava-se a passos largos e o desespero era já muito grande quando um dos dragões mais velhos e mais sábios se lembrou do Samuel, o dragão que deitava água pela boca e que por isso mesmo tinha sido expulso para sempre daquela terra. Só ele é que podia salvar os dragões. Partiram vários emissários que correram montes e montanhas, vales e florestas até que encontraram o dragão Samuel.
Não foram precisos muitos pedidos para fazer o dragão Samuel voltar. É verdade que sentiu uma dor no peito quando encontrou de novo aqueles que o tinham expulsado da sua terra. Mas, como não era capaz de guardar raiva no coração, dispôs-se a ajudar os seus irmãos.
O dragão Samuel desatou a comer nuvens e a deitar água pela boca. E, num ápice, inundou de água o país dos dragões. Os lagos voltaram a encher-se, os rios voltaram a correr caudalosos, as árvores voltaram a crescer grandes e frondosas, as flores voltaram a sorrir ao orvalho da manhã.
Os dragões não tinham ficado muito diferentes. Continuavam a deitar fogo pela boca. Se não o fizessem não eram dragões. Mas aprenderam a não queimar mais árvores do que aquelas que eram necessárias e, assim, não deixar a água chegar ao fim.
Encontrado o equilíbrio, os dragões viveram de novo felizes e, no meio de um lago redondo, ergueram uma estátua de homenagem ao dragão Samuel. Da boca da estátua sai um fio de água que está sempre a correr, e aos domingos todos os dragões vão atirar bolinhas de pão aos peixes vermelhos que nadam em redor, muito satisfeitos.
FANHA, José, A noite em que a noite não chegou, Porto, Campo das Letras, 2001
Um conto por dia não sabe o bem que lhe faria
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Para lá das montanhas onde o dia acaba, por trás da noite e do escuro, num sítio escuro e muito perigoso, fica o terrível país dos dragões. Foi aí que nasceu o pequeno Samuel, que logo revelou ser um dragão muito especial, embora quem o visse pela primeira vez o achasse igualzinho a todos os outros dragões.
Na aparência geral, Samuel era um bebé lindo e sem nenhum defeito. Muito verde, tinha umas lindas escamas a cobrirem-lhe o corpo, uns olhos enormes, vermelhos e flamejantes, como é normal entre os dragões. Quando começou a crescer é que as coisas se tornaram muito complicadas para o nosso pobre Samuel.
Como nós sabemos, desde pequeninos que os dragões aprendem a meter medo às pessoas e aos outros animais. E para isso não lhes basta ser verdes e horrendos. Todos os dias têm de comer enormes quantidades de carvão para, depois, deitarem pela boca grandes labaredas que queimam tudo em redor e mantêm à distância os homens e todos os outros animais.
Todos os dragões eram assim. Todos menos o Samuel. O nosso pequeno dragãozinho era igual aos outros dragões em tudo menos numa coisa. Não era capaz de comer carvão. Nem de o cheirar. Mal lhe chegava à boca tinha vómitos e tonturas. Samuel, o pequeno dragãozinho só gostava de comer nuvens. A princípio ninguém deu grande importância ao assunto. Mas, quando chegou à idade de aprender a deitar labaredas pela boca, foi com grande espanto que os pais e todos os outros dragões se aperceberam de que o Samuel, em vez de fogo, deitava rios e rios de água pela boca.
O pobre do Samuel tornou-se alvo da risota de todos os outros dragõezinhos da sua idade. Todos se riam dele e o empurravam e diziam que ele nunca havia de ser um dragão como deve ser. Samuel, o pequeno dragãozinho, vivia muito infeliz. Queria ser igual aos outros e deitar fogo e queimar tudo em redor como faziam os seus camaradas de escola. Mas não era capaz. Só sabia deitar água pela boca. Um fiozinho fino e delicado de água que em vez de assustar as árvores e os arbustos só lhes dava alegria e felicidade.
Definitivamente, Samuel não era um dragão como todos os outros.
Um dia, o Conselho dos Velhos Dragões resolveu mandar chamá-lo. Samuel apresentou-se cheio de medo perante aquele friso solene de velhos dragões onde pontuavam os mais sábios, os mais valentes e os mais fortes de todos os dragões. O mais velho olhou para ele e com a sua voz de trovão ribombante perguntou-lhe severamente:
— É verdade que tu, em vez de fogo, deitas água pela boca?
— É sim… — respondeu Samuel, que não era capaz de mentir mas sentia as pernas a tremer e o chão a tremer e o céu parecia mesmo que ia cair-lhe em cima da cabeça.
Os velhos dragões olharam uns para os outros, desataram a falar baixinho e depressa, e tomaram uma terrível decisão: resolveram expulsá-lo para sempre do país dos dragões. Triste e muito solitário, o pobre dragãozinho Samuel teve de abandonar a sua terra e foi pelo mundo fora sem ter casa para onde voltar, nem cama onde dormir nem sopa quente que o esperasse à noite.
Correndo mundo, passaram-se muitos anos. Samuel vagueava por montes e florestas sem meter medo a ninguém, comendo uma nuvem aqui, outra acolá, deitando água pela boca e tornando-se no amigo preferido das gazelas, dos patos, dos peixes e de todos os animais que vivem ao pé da água.
Entretanto, na terra de onde tinha vindo Samuel, os dragões continuavam a comer carvão e a deitar labaredas pela boca. E tanto carvão comeram, e tanto fogo espalharam à sua volta que, a pouco e pouco, acabaram por queimar tudo em seu redor. As flores murcharam, árvores morreram, os rios secaram e o país dos dragões tornou-se num deserto.
Sem flores, nem árvores, nem rios, os dragões perceberam que iam acabar por morrer.
O seu fim aproximava-se a passos largos e o desespero era já muito grande quando um dos dragões mais velhos e mais sábios se lembrou do Samuel, o dragão que deitava água pela boca e que por isso mesmo tinha sido expulso para sempre daquela terra. Só ele é que podia salvar os dragões. Partiram vários emissários que correram montes e montanhas, vales e florestas até que encontraram o dragão Samuel.
Não foram precisos muitos pedidos para fazer o dragão Samuel voltar. É verdade que sentiu uma dor no peito quando encontrou de novo aqueles que o tinham expulsado da sua terra. Mas, como não era capaz de guardar raiva no coração, dispôs-se a ajudar os seus irmãos.
O dragão Samuel desatou a comer nuvens e a deitar água pela boca. E, num ápice, inundou de água o país dos dragões. Os lagos voltaram a encher-se, os rios voltaram a correr caudalosos, as árvores voltaram a crescer grandes e frondosas, as flores voltaram a sorrir ao orvalho da manhã.
Os dragões não tinham ficado muito diferentes. Continuavam a deitar fogo pela boca. Se não o fizessem não eram dragões. Mas aprenderam a não queimar mais árvores do que aquelas que eram necessárias e, assim, não deixar a água chegar ao fim.
Encontrado o equilíbrio, os dragões viveram de novo felizes e, no meio de um lago redondo, ergueram uma estátua de homenagem ao dragão Samuel. Da boca da estátua sai um fio de água que está sempre a correr, e aos domingos todos os dragões vão atirar bolinhas de pão aos peixes vermelhos que nadam em redor, muito satisfeitos.
FANHA, José, A noite em que a noite não chegou, Porto, Campo das Letras, 2001
in https://contadoresdestorias.wordpress.com/2016/12/17/a-verdadeira-e-maravilhosa-historia-do-dragao-samuel/
ROTEIROS DIGITAIS DE LEITURA
Porque toda a leitura é viagem
Viagens literárias e roteiros de leitura:
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quinta-feira, 21 de maio de 2020
DIA DA ESPIGA - 21 DE MAIO
Um artigo muito interessante
HOJE É DIA DA ESPIGA
A SUA ORIGEM, HISTÓRIA E SIGNIFICADOS
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AVÓS - HISTÓRIA PARA CRIANÇAS DOS 0 AOS 100 DE CHEMA HERAS
Um livro da editora Kalandraka escrito por Chema Heras e ilustrado por Rosa Osuna. Todos nós envelhecemos, é a lei da vida. Mas a beleza não morre com os anos, transforma-se simplesmente. Uma história romântica e poética repleta de metáforas encadeadas.
A ARTE DE SER FELIZ DE CECÍLIA MEIRELES
LER+PARA SER+
Houve um tempo em que a minha janela se abria para um chalé. Na ponta do chalé brilhava um grande ovo de louça azul. Nesse ovo costumava pousar um pombo branco. Ora, nos dias límpidos, quando o céu ficava da mesma cor do ovo de louça, o pombo parecia pousado no ar. Eu era criança, achava essa ilusão maravilhosa e sentia-me completamente feliz.
Houve um tempo em que a minha janela dava para um canal. No canal oscilava um barco. Um barco carregado de flores. Para onde iam aquelas flores? Quem as comprava? Em que jarra, em que sala, diante de quem brilhariam, na sua breve existência? E que mãos as tinham criado? E que pessoas iam sorrir de alegria ao recebê-las? Eu não era mais criança, porém a minha alma ficava completamente feliz.
Houve um tempo em que minha janela se abria para um terreiro, onde uma vasta mangueira alargava sua copa redonda. À sombra da árvore, numa esteira, passava quase todo o dia sentada uma mulher, cercada de crianças. E contava histórias. Eu não podia ouvir, da altura da janela; e mesmo que a ouvisse, não a entenderia, porque isso foi muito longe, num idioma difícil. Mas as crianças tinham tal expressão no rosto, a às vezes faziam com as mãos arabescos tão compreensíveis, que eu participava do auditório, imaginava os assuntos e suas peripécias e me sentia completamente feliz.
Houve um tempo em que a minha janela se abria sobre uma cidade que parecia feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim seco. Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre homem com um balde e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.
UM CONTO POR DIA NÃO SABE O BEM QUE LHE FARIA
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Houve um tempo em que a minha janela dava para um canal. No canal oscilava um barco. Um barco carregado de flores. Para onde iam aquelas flores? Quem as comprava? Em que jarra, em que sala, diante de quem brilhariam, na sua breve existência? E que mãos as tinham criado? E que pessoas iam sorrir de alegria ao recebê-las? Eu não era mais criança, porém a minha alma ficava completamente feliz.
Houve um tempo em que minha janela se abria para um terreiro, onde uma vasta mangueira alargava sua copa redonda. À sombra da árvore, numa esteira, passava quase todo o dia sentada uma mulher, cercada de crianças. E contava histórias. Eu não podia ouvir, da altura da janela; e mesmo que a ouvisse, não a entenderia, porque isso foi muito longe, num idioma difícil. Mas as crianças tinham tal expressão no rosto, a às vezes faziam com as mãos arabescos tão compreensíveis, que eu participava do auditório, imaginava os assuntos e suas peripécias e me sentia completamente feliz.
Houve um tempo em que a minha janela se abria sobre uma cidade que parecia feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim seco. Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre homem com um balde e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.
Cecília Meireles
Escolha o Seu Sonho – Crónicas, 2016
terça-feira, 19 de maio de 2020
segunda-feira, 18 de maio de 2020
A BATALHA DE ALJUBARROTA - 1385
Grandes Batalhas de Portugal
Um pouco da nossa História... IDADE MÉDIA ![]() |
pt.wikipedia.org |
"Em Agosto de 1385, o exército português, comandado por Nuno Álvares Pereira, derrotou as tropas invasoras vindas de Castela e garantiu a independência de Portugal. O documentário "Grandes Batalhas de Portugal" visita esse momento histórico. (...)
Clique aqui:
DIA INTERNACIONAL DOS MUSEUS - 18 DE MAIO
(…) “Para assinalar a data e o simbolismo da ocasião foi determinada, pelo Despacho 22/GDG/2020, a gratuitidade de entrada em todos os Museus, Palácios e Monumentos sob tutela da DGPC, no dia 18 de maio de 2020.
Nota: De forma a garantir o cumprimento das regras básicas de higiene e segurança, solicitamos a todos que tenham em conta as seguintes condições: uso de máscara, respeito pela distância de segurança e pelo nº máximo de visitantes estipulado por cada entidade. (…)
E ainda a agenda de atividades para o dia de hoje:
A VOLTA AO MUNDO EM 200 MENSAGENS – EXPRESSO MULTIMÉDIA
sexta-feira, 15 de maio de 2020
NOVO DESAFIO DE ESCRITA
A ORQUESTRA NA BALEIA - PROJETO DE ESCOLA DE MÚSICA DE PEROSINHO (V.N.GAIA)
Este vídeo faz parte dos “Contos de Quarentena”, o conto infantil “A orquestra na Baleia” escrito por Mário João Alves, ilustrado pela Dina Sachse e produzido pela Escola de Música de Perosinho (maio de 2020).
Parabéns a todos os envolvidos!
quinta-feira, 14 de maio de 2020
DIA INTERNACIONAL DA FAMÍLIA
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vozdaplanicie.pt |
"Em 1993, a Assembleia Geral das Nações Unidas declarou o dia 15 de maio como Dia Internacional da Família. Desde então comemora-se este dia, de forma a chamar a atenção para questões que influenciam o dia a dia da Família, e para que se reconheça o papel nuclear da família na sociedade e se incentive a adoção de medidas no sentido de melhorar a sua condição." (...)
Leia aqui:
quarta-feira, 13 de maio de 2020
PENSAMENTO DO DIA
MUDAM-SE OS TEMPOS, MUDAM- SE AS VONTADES...
POEMA DE LUÍS DE CAMÕES
(1524-1580)
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pinterest.pt |
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o Mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem (se algum houve), as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria,
e, enfim, converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
outra mudança faz de mor espanto,
que não se muda já como soía.
Luís Vaz de Camões
terça-feira, 12 de maio de 2020
TABUADAS DOS /,8 e 9 (MARIA FEAT M & M) - As canções da Maria II - Mar...
AS CANÇÕES DA MARIA II - MARIA VASCONCELOS
sábado, 9 de maio de 2020
MAIS BONITO DO QUE AS SARDAS
Ler+Para Ser+
Aconteceu um ano no Zoo. Eu e a minha filha estávamos ao lado de uma avó e de uma menina com a cara toda pintalgada de sardas vermelhas e brilhantes. As crianças faziam fila, esperando que uma artista local lhes pintasse as caras, decorando-as com patinhas de tigre.
— Tu tens tantas sardas que nem há sítio para pintar — berrou um rapaz da fila. Envergonhada, a pequenita ao meu lado baixou a cabeça.
A avó ajoelhou-se ao lado dela. — Adoro as tuas sardas — disse ela.
— Mas eu não! — respondeu a menina.
— Bem, quando eu era pequena só queria ter sardas — disse ela, passando o dedo pelas bochechas da criança. — As sardas são lindas!
A menina olhou para cima. — A sério?
— Claro — disse a avó. — Diz-me lá uma só coisa que seja mais linda que as sardas.
A pequenita examinou atentamente a cara sorridente da velha senhora. — As rugas — disse meigamente.
Aquele momento ensinou-me algo a partir de então. Se olharmos os outros com os olhos do amor, não veremos defeitos. Apenas beleza.
"As rugas deviam simplesmente indicar o lugar onde os sorrisos estiveram."
Mark Twain
Aconteceu um ano no Zoo. Eu e a minha filha estávamos ao lado de uma avó e de uma menina com a cara toda pintalgada de sardas vermelhas e brilhantes. As crianças faziam fila, esperando que uma artista local lhes pintasse as caras, decorando-as com patinhas de tigre.
— Tu tens tantas sardas que nem há sítio para pintar — berrou um rapaz da fila. Envergonhada, a pequenita ao meu lado baixou a cabeça.
A avó ajoelhou-se ao lado dela. — Adoro as tuas sardas — disse ela.
— Mas eu não! — respondeu a menina.
— Bem, quando eu era pequena só queria ter sardas — disse ela, passando o dedo pelas bochechas da criança. — As sardas são lindas!
A menina olhou para cima. — A sério?
— Claro — disse a avó. — Diz-me lá uma só coisa que seja mais linda que as sardas.
A pequenita examinou atentamente a cara sorridente da velha senhora. — As rugas — disse meigamente.
Aquele momento ensinou-me algo a partir de então. Se olharmos os outros com os olhos do amor, não veremos defeitos. Apenas beleza.
sexta-feira, 8 de maio de 2020
quarta-feira, 6 de maio de 2020
ACERCA DO 1º DE MAIO
TRABALHOS PRODUZIDOS PELOS ALUNOS
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planicie.pt |
UM POEMA DA MARIA BARBOSA, 6.º ANO, TURMA A, Nº 11
uma data insignificante,
que depois de tantos anos
teve uma reviravolta chocante.
Um dia,já cansados
com as condições de trabalho,
saíram todos ás ruas
da cidade de Chicago.
Conseguiram o que queriam
e já puderam descansar,
e, no dia seguinte,
com vontade, foram trabalhar.
ACERCA DO 1.º DE MAIO
A CRISE DE SUCESSÃO AO TRONO AO TRONO (1383-1385)
terça-feira, 5 de maio de 2020
UNESCO DECLARA 5 DE MAIO O DIA MUNDIAL DA LÍNGUA PORTUGUESA
Celebra-se hoje pela primeira vez o dia Mundial da Língua Portuguesa.
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dnoticias.pt |
Clique aqui:
e aqui: https://mag.sapo.pt/showbiz/artigos/dia-mundial-da-lingua-portuguesa-assinala-se-hoje-pela-primeira-vez
São cerca de 260 milhões de pessoas que falam Português nos cinco continentes.
segunda-feira, 4 de maio de 2020
O ANO DA PESTE NEGRA
SUGESTÃO DE LEITURA PARA O 5.º ANO
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Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada |
ISBN: 9789722100328
Edição ou reimpressão: 04-1997
Editor: Editorial Caminho
Idioma: Português
Dimensões: 129 x 184 x 8 mm
Encadernação: Capa mole
Páginas: 140
Tipo de Produto: Livro
Coleção: Viagens no Tempo
SINOPSE
Impulsivo como sempre, João carrega nuns botões marcando sem querer uma data fatídica: 1348. Não foi preciso mais nada para a máquina do tempo disparar para esse ano, o ano em que a tremenda peste negra varreu a Europa, assassinando milhões de pessoas. Claro que Orlando quis voltar para trás, só que a máquina avariou.
Então o cientista e os dois irmãos não tiveram outro remédio senão percorrer as ruas de Lisboa quase deserta em busca de um ferreiro que lhes fabricasse uma peça especial. As voltas e reviravoltas levaram-nos a um palacete onde tinham sobrevivido apenas um menino de seis anos com fama de ter poderes sobrenaturais para curar certas doenças e o seu velho criado Valdemar. Fazem amizade. Mas quando menos esperam são todos perseguidos e assaltados por uma perigosa quadrilha.
Resta-lhes lutar ou morrer.
Veja
in WOOK
sábado, 2 de maio de 2020
TEXTO POÉTICO DE LUÍSA DUCLA SOARES
A MÃE
![]() |
wook.pt |
A mãe
é uma árvore
e eu sou uma flor.
A mãe
tem olhos altos como estrelas.
Os seus cabelos brilham
como o sol.
A mãe
faz coisas mágicas:
transforma farinha e ovos
em bolos,
linhas em camisolas,
trabalho em dinheiro.
A mãe
tem mais força do que o vento:
carrega sacos e sacos do supermercado
e ainda me carrega a mim.
A mãe
quando canta
tem um pássaro na garganta.
A mãe
conhece o bem e o mal.
Diz que é bem partir pinhões
e partir copos é mal.
Eu acho tudo igual.
A mãe
sabe para onde vão
todos os autocarros,
descobre as histórias que contam
as letras dos livros.
A mãe
tem na barriga um ninho.
É lá que guarda
o meu irmãozinho.
A mãe
podia ser só minha.
Mas tenho de a emprestar
a tanta gente…
A mãe
à noite descasca batatas.
Eu desenho caras nelas
e a cara mais linda
é da minha mãe.
Luísa Ducla Soares, Poemas da mentira e da verdade, Livros Horizonte, 1999
POESIA - FALA DE MÃE E FILHO
![]() |
O Leme |
«Meu filho:
onde vais
que tens do rio o caminhar?»
Não espreites a estrada, mãe,
que eu nasci
onde o tempo se despenhou.
«Meu filho:
onde te posso lembrar
se apenas te dei nome para te embalar ?»
Mãe, minha mãe:
não te pese saudade
que eu voltarei sempre
como quem chega do mar.
«Meu filho:
onde te posso nascer
se meu ventre seco
nunca ninguém gerou?»
Mãe, nascerás sempre
na pedra em que te escuto:
a tua ausência, meu luto,
teu corpo para sempre insepulto.
Mia Couto, em “Tradutor de Chuvas”. Lisboa: Editorial Caminho, 2011.
TEXTO POÉTICO DE FLORBELA ESPANCA
DE JOELHOS
“Bendita seja a Mãe que te gerou.”
Bendito o leite que te fez crescer
Bendito o berço aonde te embalou
A tua ama, pra te adormecer!
Bendita essa canção que acalentou
Da tua vida o doce alvorecer …
Bendita seja a Lua, que inundou
De luz, a Terra, só para te ver …
Benditos sejam todos que te amarem,
As que em volta de ti ajoelharem
Numa grande paixão fervente e louca!
E se mais que eu, um dia, te quiser
Alguém, bendita seja essa Mulher,
Bendito seja o beijo dessa boca!!
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Florbela Espanca - revista Estante |
“Bendita seja a Mãe que te gerou.”
Bendito o leite que te fez crescer
Bendito o berço aonde te embalou
A tua ama, pra te adormecer!
Bendita essa canção que acalentou
Da tua vida o doce alvorecer …
Bendita seja a Lua, que inundou
De luz, a Terra, só para te ver …
Benditos sejam todos que te amarem,
As que em volta de ti ajoelharem
Numa grande paixão fervente e louca!
E se mais que eu, um dia, te quiser
Alguém, bendita seja essa Mulher,
Bendito seja o beijo dessa boca!!
Florbela Espanca, em “Livro de Mágoas”. Lisboa: Editorial Estampa, 2012.
sexta-feira, 1 de maio de 2020
UMA APOSTA DE LEITURA PARA O FIM DE SEMANA...
LER+ PARA SER+
A APOSTA DE LEITURA
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Estação da Leitura- Webnote |
A minha irmã mais velha tinha acabado de ler um romance. O relógio ia bater as nove da noite e eu esperava com receio que a minha mãe viesse mandar-me para a cama. Eu, que nunca tinha podido ler um livro até à última página, achava que a minha irmã acabava de realizar um voo prodigioso, pois, com as suas inúmeras páginas, não se poderia comparar o livro ao espaço? Pelas janelas abertas, sentia-se a noite agradável de Julho.
Senti-me desgostoso e jurei a mim próprio que também eu havia de ler um livro.
Na tarde do dia seguinte, disse à minha irmã:
— Aposto contigo como vou ler um livro inteiro.
— Ainda és muito pequeno.
— Já sou bem grande e corro mais depressa do que tu! — protestei com indignação.
Pegámos cada um em seu livro de grossura média, a que contámos as páginas, e combinámos que, aquele que acabasse a leitura em primeiro lugar, comeria a sobremesa do outro.
— Vamos para debaixo da tília — propus.
Estendemo-nos à sombra daquela árvore prodigiosa de tronco alto como uma torre e com uma forma que dir-se-ia ter sido escavado. A quatro pés do chão, este dividia-se em várias pernadas mestras, imponentes, parecendo, cada uma delas, por sua vez, o tronco de uma grande árvore. No seu conjunto, as quatro pernadas formavam a armação de um imenso guarda-sol de folhas. Tínhamos jurado, pelo nome de qualquer santo ou divindade, que não saltaríamos nenhuma página, nem uma linha sequer.
Atirei-me ao livro como um leão à sua presa. Devoradas duas páginas, levantei rapidamente os olhos para observar a minha irmã: de cócoras, a três passos do tronco, segurava o livro na saia, entre os joelhos afastados e não se mexia. Não pude ver-lhe os olhos, mas senti que para mim eram uns rivais temíveis e, a tremer, retomei a corrida.
O que estava eu a ler? Nunca soube, nem sequer naquele momento, porque se tratava apenas de correr e ultrapassar a minha adversária… Enquanto lia, não pude deixar de notar a rapidez com que a minha irmã virava as páginas e senti que eu já estava a ficar para trás. Quis saltar para ganhar avanço; mas lembrei-me do nosso juramento e detive-me. O tempo não era de trovoada, mas, para o culpado, o raio está sempre por perto. Cheio de ânimo, pus-me a galope. No entanto, mil obstáculos, sombrios ou brilhantes, atravessavam-se no meu caminho: de repente, certas palavras alongavam-se ou ficavam tão estreitas, que pareciam querer tornar-se invisíveis, ou então, várias palavras ou pedaços de frase colavam-se uns aos outros como bolhas à superfície de um lago e acabavam por formar uma espuma esquisita. Mais adiante, pareciam andar à bulha umas com as outras, e eu era obrigado a separá-las. Tudo aquilo me impedia de avançar.
Os meus olhos trabalharam muito. Mas pude fazer alguns voos em flecha que rasaram deliciosamente a página. O enlevo desse movimento fez-me esquecer a aposta. Atrasei-me a olhar à volta das palavras, ou até mais acima, e cheguei mesmo a parar para engendrar um sentido obscuro, como um cão que fareja uma toupeira. Ou então, fazia estoirar uma palavra como uma cápsula e daquela semente morta soltava-se o germe, desenvolvia-se, terminando, em poucos segundos, o seu crescimento. Naqueles instantes eu tinha sido árvore, floresta, para voltar a ser, logo a seguir, dois olhos a correrem para uma nova descoberta.
Assim prosseguiu por algum tempo a minha leitura, num outro mundo, sem a curiosidade de verificar o caminho percorrido.
De repente, estremeci. Tinha entrado numa espécie de túnel onde reinavam as trevas. Apesar de avançar corajosamente, não consegui encontrar nenhum sentido. O medo de ficar para sempre bloqueado apoderou-se de mim, de uma forma tão violenta, que fechei os olhos, como para mergulhar mais fundo, encontrar a luz e esquecer a escuridão.
Foi o que aconteceu. Nem sequer me apercebi de que erguera as pálpebras. À minha frente brilhou, de repente, uma claridade sobrenatural, como a que deve ver o afogado ao ressuscitar da água.
Ouvi a melodia de um melro. Cada sílaba sua parecia gravar-se na folhagem da tília, e aquela nova leitura reteve o meu olhar lá no alto, entre as grossas pernadas, onde algo estranho me chamou a atenção: os suportes de ferro que as ligavam umas às outras com segurança. Não era a primeira vez que estava a vê-los. O meu irmão explicara-me um dia que, se não fossem eles, aquelas pernadas demasiado pesadas e apoiadas num tronco demasiado curto, viriam abaixo com toda a folhagem, como os cabos de um carrossel. Mas hoje estava a olhar para aqueles suportes de uma forma completamente nova. Não foi tanto o aspecto daqueles ferros enferrujados que me chamou a atenção, mas antes, os ramos que eles suportavam. Pareciam aceitar com dificuldade aquele incómodo, e veio-me à ideia o ranger que a árvore fazia quando o vento soprava: eram as pernadas aprisionadas que se lamentavam.
Pus o livro de lado e, em bicos de pés, apoiado no tronco com ambas as mãos, pus-me a observar os ramos de mais perto. Uma folhagem espessa encobria-me o mistério. Estaria o tronco oco e sacrificado a pedir-me ajuda e a oferecer-me as suas asperezas sólidas para me servirem de espigões e eu poder trepar até à junção de onde saíam as quatro pernadas mestras?
Não tive dificuldade em subir, pois pude fazer a cabeça passar por entre a folhagem. Em seguida, agarrei-me à casca e lá consegui segurar-me, de uma assentada, no ângulo formado pelas duas pernadas mais grossas.
Um mundo novo e doloroso abriu-se diante de mim. No entanto, aquela sensação de angústia que eu sentira a princípio, ao ver a parte de baixo dos ramos onde os ferros enferrujados tinham cedido ao peso, desaparecera logo que pude ver de perto os músculos vigorosos da tília. Pareciam vingar-se dos ferros, porque em vários pontos, aliás, em quase toda a extensão, a carne da madeira tinha-se fechado à volta do ferro, formando inchaços nodosos, de forma que os ferros, segurando ainda os ramos, tinham, por sua vez, ficado prisioneiros nela.
A minha alegria era tanta, que bati palmas e quase perdi o equilíbrio. Depois levantei os olhos. Sem dúvida, a grande tília era a mais forte. Que necessidade tinha ela de apoio? As pernadas mestras subiam e mantinham-se sem dificuldade, deixando pender ramos mais pequenos que pareciam estar ali só para se divertirem. No topo, tudo confluía num verdejante infinito. Uma alegre vertigem apoderou-se de mim; o dossel de folhas pôs-se a girar por cima da minha cabeça, os cinco ramos giravam também sobre o eixo do tronco principal. Ouvi o canto dos pássaros como nunca tinha ouvido, e, de repente, lembrando-me da comparação do meu irmão, pareceu-me que estava na feira popular e que a árvore se tinha transformado num carrossel vivo.
Um movimento desajeitado meu obrigou-me a baixar os olhos, enquanto me agarrava a um ramo. Vi a minha irmã. Vista de cima, não passava de uma grande bola cinzenta com outra mais pequena, a cabeça, no meio. O duplo quadrado branco do livro recordou-me bruscamente a leitura. Um misto de furor e surpresa fez-me hesitar um minuto ali até onde tinha subido quase sem me dar conta. Há quanto tempo estava ali?
Baixei-me e deixei-me escorregar sem barulho. No chão, escondi-me atrás do tronco da tília para a minha irmã não me ver, caso levantasse a cabeça. Cuidado inútil. A minha irmã lia, toda metida no livro. Só a mão que virava as páginas, parecia viver no mesmo mundo que eu. Com efeito, ela não levantara os olhos desde que entrara na história. Eu podia ter caído da árvore, ter arrastado comigo a tília, com um assustador ruído de ferros, que a minha irmã não se desligaria do livro.
Despachei-me a pegar no meu e retomei a posição que ocupava no momento em que a árvore me tinha chamado. Estava perdido, bem sabia. Havia duas coisas que mo mostravam: o sol, que já ia baixo, e a reduzida espessura do quadrado branco que a minha irmã segurava na mão direita. Era demasiado tarde para recuperar o tempo perdido. No entanto, fingi estar absorvido na leitura do meu livro, observando pelo canto do olho, com angústia, os progressos da minha irmã, marcados pelo movimento nervoso da mão que virava as páginas. Vi as suas pálpebras baterem cada vez mais rápido, à medida que o fim se aproximava e, de repente, o desenlace que eu receava concretizou-se. A minha irmã deixou cair o livro na relva; ergueu a cabeça e ficou uns momentos de olhos fechados. Depois, voltando-se para mim, pareceu procurar-me, embora eu estivesse diante dela e ela já tivesse os olhos abertos. Fechei o meu livro com barulho.
— Acabei — disse a minha irmã ainda inchada de leitura.
— Eu também — exclamei com uma força que me fez tremer.
Ela olhou para mim, admirada, compôs uma mecha de cabelo que a incomodava:
— Não é verdade — disse, sem se zangar.
Julguei que se tinha apercebido da minha ausência mas agarrei-me à mentira, como há pouco me agarrara ao ramo.
— Acabei antes de ti — afirmei eu.
— Então conta lá a história.
Corado de vergonha, comecei a contar-lhe o início do livro até ao momento em que tinha entrado no túnel. Depois, levantando-me com uma tal audácia que não sabia que tinha, continuei, em imaginação, o caminho por onde tinha andado. Tremia e avançava cheio de raiva; a grande tília oferecia-me o apoio dos seus braços musculosos, e, no entanto, parecia que ia sacudir os ferros e atirar-se sobre mim para me castigar.
A minha irmã deixou-me continuar por algum tempo, depois bateu palmas e exclamou:
— Estás a mentir, estás a inventar. Só leste o início do livro. Eu já o conheço, li-o todo e vou contar-te a história.
Comecei a soluçar de raiva e de remorsos, apanhei o livro que me tinha caído das mãos e atirei-o para longe, com todas as minhas forças.
O meu desespero redobrou quando a minha irmã, julgando consolar-me, me disse que renunciava à minha sobremesa.
Franz Hellens
Contes et nouvelles ou Les souvenir de Frédéric
Bruxelles, Editions Jacques Antoine, 1977
Tradução e adaptação
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