Powered by DaysPedia.com
1117am
ter, 24 de Novembro

domingo, 29 de novembro de 2020

POESIA DE ANTÓNIO GEDEÃO

                                                      Lágrima de preta 

                                                                                                                WOOK

Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar. 

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado. 

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente. 

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais. 

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio. 

Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.


António Gedeão, Obra Poética, Lisboa, Ed. João Sá da Costa, 2001. P. 83

Sem comentários:

Enviar um comentário